O líder do MPLA, igualmente Titular do Poder Executivo e Presidente da República há 38 anos, José Eduardo dos Santos, defendeu hoje uma “boa organização” como prioridade do partido para as eleições gerais de Agosto próximo, às quais – parece – já não concorre.
O líder do MPLA e Presidente de Angola desde 1979 (nunca nominalmente eleito) discursava na abertura da sessão extraordinária do Comité Central do partido, que hoje se reuniu para apreciar eventuais ajustamentos à lista de candidatos a deputados nas eleições gerais, que ainda não foram agendadas.
Segundo José Eduardo dos Santos, o foco e pensamento do partido “deve centrar-se na obtenção de uma vitória eleitoral expressiva que garanta ao MPLA a implementação do seu projecto de sociedade, de unidade nacional e de desenvolvimento económico, político e cultural”.
Ou seja, deve assentar na implementação do que o MPLA deveria ter feito nos últimos 42 anos mas que, como resultado inequívoco da sua governação, apenas resultou – entre outros exemplos – na criação de 20 milhões de pobres, na colocação do país no topo dos mais corruptos do mundo e na liderança do “ranking” mundial da mortalidade infantil.
Para o líder do MPLA, a ausência de uma boa organização pode afectar negativamente o desempenho do partido, considerada “a peça chave” para o êxito nas próximas eleições, que terão como cabeça-de-lista pelo círculo nacional o general e ministro da Defesa, João Lourenço.
Convenhamos que, bem vistas as coisas, o MPLA tem já uma boa organização que, aliás, tem cumprido com rigor e eficiência o seu objectivo máximo: trabalhar para que poucos (todos do MPLA) tenham milhões e milhões (de angolanos) tenham pouco… ou nada.
“Principalmente agora que nos aproximamos a passos largos das eleições gerais, que vão determinar o futuro da nação, nos próximos anos”, apontou José Eduardo dos Santos. Ainda bem que o “escolhido de Deus” esclareceu que estas eleições “vão determinar o futuro”. É que, como anteriormente, os angolanos calculavam que elas fossem determinar o… passado.
“O que pretendemos com esta estruturação é pois garantir maior eficácia, optimização, na execução das nossas tarefas partidárias e/ou aumento dos índices de confiança do partido por parte dos eleitores em geral”, frisou. Tarefas que, como os 20 milhões de angolanos pobres sabem, não incluem aquela que era a divisa do primeiro presidente de Angola, Agostinho Neto: “O importante é resolver os problemas do Povo”.
Sobre os eventuais ajustamentos a introduzir na lista de candidatos a deputados nas eleições gerais deste ano, na reunião deverá ser aprovada uma resolução que vai dar competência ao Bureau Político para o efeito.
“Não iremos proceder à alteração dos candidatos constantes da lista já aprovada pelo Comité Central, mas tão-somente conferir ao Bureau Político, a competência através de uma resolução, aprovada pelo Comité Central, para que ele efectue eventuais ajustamentos na sua ordem de precedências, os quais podem ser ditados por factores imponderáveis, como por exemplo, a morte, a doença ou mesmo a desistência de uma das candidaturas, etc…”, explicou.
A excelência do raciocínio de José Eduardo dos Santos é a prova provada de que ele é mesmo o “escolhido de Deus”. Os ajustamentos na lista “podem ser ditados por factores imponderáveis”, como por exemplo… a morte de um candidato. Quem diria, não é? E todos estávamos a julgar que a morte de um candidato em nada alteraria a lista…
Aliás, como no passado, os angolanos até estão habituados em que em alguns círculos eleitorais apareçam mais votos do que votantes, sendo certo que alguns mortos tinham (ainda terão?) direito de voto.
“Devemos pois encarar um eventual reposicionamento dos candidatos como uma questão meramente estratégica do partido, cujo objectivo fundamental é vencer as eleições gerais”, acrescentou.
Ora aí está. Se o objectivo fundamental é vencer as eleições (custe o que custar), e perante a manifesta incapacidade política e falta de empatia de João “Malandro” Lourenço, se calhar o MPLA ainda vai reajustar a lista de modo a José Eduardo dos Santos ser o cabeça-de-lista, resignando depois a favor do número dois, João Lourenço.
Na mesma reunião, José Eduardo Santos puxou dos galões (ou não estivesse perante uma assembleia de servis autómatos) para manifestar satisfação pela “trajectória descendente da inflação”, que já se situa – diz ele – próxima do intervalo ambicionado de variação mensal dos preços, não superior a 1,5%.
Assim, o Presidente dos angolano do MPLA sublinhou a particular atenção que tem sido dada ao controlo da inflação, à estabilização das reservas internacionais líquidas e à aceleração dos processos que reduzam a dependência externa no acesso aos bens essenciais de consumo e condução à diversificação das receitas fiscais.
“Temos neste momento boas razões para confiar numa trajectória descendente da inflação, que já se situa próxima do intervalo que ambicionamos de uma variação mensal dos preços não superior a 1,5%”, reforçou José Eduardo dos Santos. Por palavras mais simples, bem poderia dizer que, afinal, a inflação é superior a 38%. Mas não.
Segundo o líder do MPLA, os bons resultados na “redução sensível dos preços dos bens da cesta básica, protegendo as famílias de menor rendimento”, têm sido garantidos com a canalização meticulosa dos recursos cambiais para a importação dos bens de primeira necessidade e dos insumos necessários à sua produção, a par de uma política de rendimentos compatível com a trajectória de ajustamento.
O que dirão disto os representantes dos 20 milhões de pobres presentes na reunião. Nada. Nada porque nenhum deles representa essa enormíssima maioria de escravos, de angolanos de segunda categoria.
“Foram definidas medidas concretas para estimular o fomento e o aumento da produção nacional, com vista a reduzir paulatinamente as importações daqueles produtos que podem ser produzidos internamente e a aumentar a diversificação e o aumento das exportações”, enumerou José Eduardo dos Santos, esquecendo-se de dizer que, nesta altura, até milho estamos a importar.
José Eduardo dos Santos reconheceu que apesar dos esforços, o quadro de predominância de bens importados em que o país ainda se encontra tem impedido de momento “a adopção de medidas cambiais e monetárias clássicas”.
“Como seriam uma desvalorização da nossa moeda, para protecção das reservas nacionais, e uma subida concomitante das taxas de juros para suster a inflação, que daí pudesse advir, porque o efeito combinado dessas medidas iria desacelerar o investimento privado e o indispensável, a diversificação sustentável da nossa economia”, disse perante o espanto dos servos, rendidos à sabedoria económica e financeira do rei.
Para o líder do partido no poder em Angola desde a independência (1975), com essas medidas estão criadas “as condições para atender melhor às necessidades da população e da economia”. Pois.
Só entre Janeiro e Dezembro de 2016, a inflação disparou mais de 40%, mas desde o início deste ano está em ligeira queda. Recorde-se que José Eduardo dos Santos anunciou a 3 de Fevereiro um, mais um, “novo programa macroeconómico executivo”, cuja estratégia “visa atacar com prioridade a inflação, para a reduzir de modo significativo”, bem como a “diversificação e o aumento das exportações e das receitas fiscais”.
Por mera curiosidade pedagógica, registe-se que, enquanto província ultramarina de Portugal, até 1973, Angola era auto-suficiente, face à diversificação da economia.
Era o segundo produtor mundial de café Arábico; primeiro produtor mundial de bananas, através da província de Benguela, nos municípios da Ganda, Cubal, Cavaco e Tchongoroy. Só nesta região produzia-se tanta banana que alimentou, designadamente a Bélgica, Espanha e a Metrópole (Portugal) para além das colónias da época Cabo-Verde, Moçambique, Guiné-Bissau e Sã Tomé e Príncipe.
Era igualmente o primeiro produtor africano de arroz através das regiões do (Luso) Moxico, Cacolo Manaquimbundo na Lunda Sul, Kanzar no Nordeste Lunda Norte e Bié.
Ainda no Leste, nas localidades de Luaco, Malude e Kossa, a “Diamang” (Companhia de Diamantes de Angola) tinha mais 80 mil cabeças de gado, desde bovino, suíno, lanígero e caprino, com uma abundante produção de ovos, leite, queijo e manteiga.
Na região da Baixa de Kassangue, havia a maior zona de produção de algodão, com a fábrica da Cotonang, que transformava o algodão, para além de produzir, óleo de soja, sabão e bagaço.
Na região de Moçâmedes, nas localidades do Tombwa, Lucira e Bentiaba, havia grandes extensões de salga de peixe onde se produzia, também enormes quantidades de “farinha de peixe”, exportada para a China e o Japão.